Opinião
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As minhas dicas para o MIUT

Não sou nenhum especialista e, obviamente, este artigo só poderá interessar àqueles que, como eu, andam pelo meio do pelotão. Este ano, 2018, voltarei para a minha quarta tentativa.

Fleed

  • Filipe Torres. Foto: D.R.
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Por: Quarenta e Dois

Ponto prévio: o que se segue é apenas e só a minha impressão do percurso do MIUT e de como este deve ser gerido. Resulta das minhas participações na prova. Uma primeira, que terminei com grande sofrimento, a segunda, onde correu quase tudo bem e terceira em que... bom, não foi mau, não fosse a bomba relógio. Não sou nenhum especialista e, obviamente, este artigo só poderá interessar àqueles que, como eu, andam pelo meio do pelotão. Este ano, 2018, voltarei para a minha quarta tentativa.

Faltam poucas semanas para estarmos em Porto Moniz, por isso o trabalho que havia a fazer está feito. Nesta altura, se forem como eu, já passam mais de metade do dia a antecipar ansiosamente o dia em que vão voar para a Madeira. Está na altura de afinar pormenores do equipamento, preparar os perfis para plastificar, planear a alimentação e, muito importante, estudar o percurso.

Eu sei que há quem ache o contrário, que o melhor é chegar lá e o que vier morre, mas eu não. Nestas grandes provas gosto de estudar o percurso. Deixar de o ver em quilómetros e passar a defini-lo por etapas. Primeiro esta subida, depois o KV, depois aquela secção entre abastecimentos, a descida técnica, etc, etc. É isso que vou fazer de seguida, explicar como dividi o percurso do MIUT e a forma como acho que o esforço deve ser gerido de forma a concluir a prova em condições.

 

1ª Etapa: Porto Moniz - Estanquinhos

 

Os primeiros 27km do MIUT, que terminam em Estanquinhos, são talvez a etapa mais importante da prova. Mas não pelas razões que estão a pensar: esqueçam a barreira horária. No meu primeiro ano obcequei com isso e depois cheguei à conclusão que não era assim tão apertada. Entretanto até já aumentaram 1 hora a este corte, por isso não é por aí. Estes 27km com quase 3000D+ são importantíssimos porque uma má gestão do esforço durante esta noite pode comprometer definitivamente o resto da prova.

Aquele primeiro montículo no perfil é uma prenda que a organização vos dá. Primeiro sobem 400m em alcatrão e desembocam numa descida em trilho muito fácil. Não vão voltar a encontrar estas facilidades até ao fim. Depois de três participações e de em todas ter ficado vários minutos preso em afunilamentos no fim desta subida ou na descida seguinte, o meu conselho para o início da prova é que tentem partir lá à frente, e nesta subida, que é realmente fácil, puxem um pouco mais para que consigam um lugar pelo menos a meio do pelotão. Isto tem duas vantagens: não passam tempo parados (em 2017, apesar de não ter afunilado no fim da subida, toda a descida seguinte foi feita a passo ou parada) e vão andar numa zona do pelotão que é a vossa. Esta segunda razão é importante porque até Estanquinhos muito provavelmente vão andar metidos num comboio e se a velocidade de cruzeiro for baixa vão adormecendo no ritmo.

As subidas para o Fanal e Estanquinhos são uma brutalidade. Ambas com mais que 1000m de desnível, vão apanhar desde calçada, até lama, trilhos e degraus, muitos degraus. Quando amigos meus se vão estrear em ultras e me pedem conselhos, a primeira coisa que costumo dizer é que nas primeiras subidas se sentirem que vão em esforço é porque vão mal. Se começarem a quebrar não parem, mas metam um passo cada vez mais curto. Se estiverem num trilho procurem tricotar de forma a não levantarem tanto as pernas. É aqui que entra em questão a importância da velocidade do comboio. Se estiver rápido de mais a solução é fácil, encostam. Se estiver lento não têm grandes hipóteses a não ser irem tipo zombies até conseguirem ultrapassar, o que durante vários quilómetros não é fácil.

O abastecimento do Fanal, no fim do primeiro quilómetro vertical, não fica mesmo no topo da subida, quando saem ainda têm que subir mais um bocado. Evitem estar lá muito tempo, vão chegar muito quentes da subida, mas o ar nos 1500m vai estar frio. Vão arrefecer muito rapidamente e depois como não começam logo a correr, porque ainda há subida, vão demorar a aquecer.

A descida depois do Fanal é tão ou mais importante que os dois KV. É um pesadelo. Muito técnica, cheia de degraus e socalcos, com pedra muito escorregadia. Não pensem sequer em ganhar tempo ali, deixem isso para os prós. Preocupem-se em serem eficientes. Sejam poupados, não façam tonteiras, concentrem-se sempre, se tiverem que andar para passar alguns obstáculos, andem. Só vão ganhar com isso!

 

2ª Etapa: Estanquinhos - Curral de Freiras

 

 

Antes de mais, preparem-se. Dificilmente vão fazer uma descida melhor na vida do que a estão prestes a fazer a seguir a Estanquinhos. Provavelmente vão apanhar o nascer do sol nesta altura, por isso tudo se vai conjugar para ser inesquecível. A descida é relativamente fácil até à parte final, onde existem algumas escadas. A palavra de ordem é sempre "eficácia", mas vai ser difícil não se entusiasmarem num trilho tão bom como aquele.

Após a descida de Estanquinhos vão apanhar as primeiras grandes subidas em escadas, incluindo o famoso pipeline, paisagens brutais e alguns bons quilómetros que dão para rolar, logo a seguir ao abastecimento da Encumeada.

Apesar de ser um troço aparentemente fácil, é aqui que vão perceber se se portaram bem nos primeiros 27km. No meu primeiro ano foi aqui que percebi que estava lixado!

Nesta altura, a 3 semanas do dia, ainda não se sabe se o troço entre a encumeada e a descida para o Curral sofrerá alterações por causa de uma derrocada. Se assim for, vou tentar saber o que isso implica e venho aqui editar o texto.

A descida para o Curral das Freiras é traiçoeira porque convida a andar depressa, mas tem muita pedra. Mais uma vez, há que ser económico. Não andem para lá aos saltos porque só vos vai desgastar e ainda falta muito caminho!

Após esta muito longa descida surge a grande alteração de 2017 para 2018. Se nos outros anos desembocávamos numa estrada chata que subia lentamente até ao abastecimento no Curral, este ano vamos manter-nos em trilhos e inclusivamente apanhar umas boas subidas. Digo que esta é a grande alteração porque prevejo muitas dificuldades aqui. Lembrem-se que vêm há cerca de uma hora a descer, estão com as chamadas pernas de descida. Logo de seguida, quando já só pensam no abastecimento, vão entrar numa série de trilhos a subir. Provavelmente e meio do dia, provavelmente desesperados pela Base de Vida. Comigo resulta estar perfeitamente mentalizado para o que vem, já sei que vou passar a descida a pensar nisso.

 

3ª Etapa: Curral de Freiras - Pico do Arieiro

 

 

Muito importante: no Curral encham todos os depósitos de água que tiverem, vão precisar! Vão-vos fazer um controlo de material para que saiam pelo menos com 1 litro de água. Não saiam com menos de 1.5! A minha estratégia será deixar um flask vazio no Curral (Base de Vida), enchê-lo e levá-lo na bolsa de trás da mala. Quando passar o Pico Ruivo, se estiver vazio, transporto-o mesmo assim, o peso também é pouco. Se usarem Camelbak, o que tenho usado quase sempre, encham-no e levem pelo menos um flask cheio de reserva. O ano passado saí de lá com 2L, e ainda tive que dar água a algumas pessoas que ficaram enrascadas.

Vão entrar numa parte determinante da prova. A subida para o Pico Ruivo é longuíssima, é o vosso ultimo KV, mas não são os primeiros 800D+ que interessam. Esses são pacíficos, num trilho aos ésses e constante. O pior é quando acharem que já está! Acreditem, aos 800D+ vocês vão achar que já está. Mas não. Na verdade, ainda nem começou! É aqui que tem início o carrossel de escadas.

Com a atenuante de estarem num sítio incrível, estes quilómetros, desde o tal patamar até ao Pico do Areeiro (incluindo a paragem no Pico Ruivo), são muito, muito duros. Vão subir e descer vezes sem conta, vão pensar que é já ali, vão ter vertigens, vão desesperar com as escadas infinitas e os degraus que parecem cada vez mais altos! O melhor disto tudo? No fim do dia vão chegar à conclusão que estes 7km valeram pelo esforço todo!

Em 2018 surge uma nova alteração, o abastecimento que anteriormente estava no Areeiro avançou uns km (penso que quase 4). Isto introduz mudanças importantes, a meu ver. O abastecimento a seguir ao Curral, no pico Ruivo, é muito básico, não tem acesso automóvel. Quer dizer que desde o Curral até ao próximo abastecimento substancial vão passar umas 3 a 5 horas MUITO DIFÍCEIS, feitas provavelmente à esturra do sol (foi assim nos meus 3 anos). Além da água levem comida a sério para este troço, não se encostem aos geis porque não vão ter nenhum abastecimento para compor o estômago.

 

4ª Etapa: Pico do Arieiro - Machico

Provavelmente cairão no mesmo erro que eu, quando me estreei. Olharam para o perfil e acharam que as dificuldades nesta altura já tinham acabado, que agora era quase sempre a descer até à meta. Bem, na verdade até têm alguma razão, o pior já passou. O problema é o que ficou para trás! Nesta altura nem que fosse uma ciclovia com 5% de inclinação a descer vos custava, e a descida a seguir ao Arieiro está muito longe disso. Contem com alguns trilhos técnicos e, surpresa!, umas subiditas pelo meio. A parte final da descida é num terreno que faz lembrar a Serra da Lousã, com terra escura, muitas raízes e pedras. Muito inclinado.

Chegados ao Ribeiro Frio (onde em 2018 deixou de haver abastecimento, já que o anterior avançou) têm a última grande subida do percurso. Esta subida vai conhecer a terceira versão nos últimos 3 anos, por isso vou fiar-me nas dicas que recebi de quem conhece o terreno. O inicio será em estrada o que evitará a parede maior do ano passado, depois entraremos num trilho sinuoso semelhante ao final da descida anterior, até voltarmos aos estradões suaves que nos levam até aos 1400m do Pico. Para quem conhece as últimas duas versões destas subidas, esta será uma espécie de intermédio entra o fácil de 2016 e o difícil de 2017.

Segue-se uma descida muito longa e fácil até à Portela, aproveitem bem esta parte do percurso para se convencerem que vão conseguir, já falta muito pouco!

Nesta altura a maior dificuldade até à meta, além do cansaço acumulado e de uma outra surpresa que vos falarei, é a descida do Larano, aquele precipício que veem ali no gráfico. Não desesperem, vão seguros e com calma. É uma descida enervante e difícil, já vão em piloto automático, uma distração aqui pode ter consequências chatas.

Se chegarem ao fim dessa descida de dia (coisa que não consegui), aproveitem para se distraírem com a paisagem brutal enquanto percorrem os 7km da vereda do Larano. Talvez seja esse o truque: chegar de dia. Porque de noite, meus amigos, esta vereda que pode parecer o paraíso na terra nas fotografias, vai-vos dobrar e dobrar e dobrar. São 7km ligeiramente a subir, sempre no mesmo trilho, sempre com a mesma vista. Parece uma passadeira infinita. Vai testar a fundo a vossa resistência mental.

Virado o Larano e chegados ao último abastecimento, venha mais uma vereda, levada, trilho ou estrada, nesta altura nada vos vai desviar do caminho para Machico. Liguem para quem tiverem que ligar: estão a chegar!

Está feito, parabéns!

Hm? Como é que é? Falta correr? Ah, pois.. Bom, então vemo-nos em Porto Moniz!

 

Por: Quarenta e Dois

Ponto prévio: o que se segue é apenas e só a minha impressão do percurso do MIUT e de como este deve ser gerido. Resulta das minhas participações na prova. Uma primeira, que terminei com grande sofrimento, a segunda, onde correu quase tudo bem e terceira em que... bom, não foi mau, não fosse a bomba relógio. Não sou nenhum especialista e, obviamente, este artigo só poderá interessar àqueles que, como eu, andam pelo meio do pelotão. Este ano, 2018, voltarei para a minha quarta tentativa.

Faltam poucas semanas para estarmos em Porto Moniz, por isso o trabalho que havia a fazer está feito. Nesta altura, se forem como eu, já passam mais de metade do dia a antecipar ansiosamente o dia em que vão voar para a Madeira. Está na altura de afinar pormenores do equipamento, preparar os perfis para plastificar, planear a alimentação e, muito importante, estudar o percurso.

Eu sei que há quem ache o contrário, que o melhor é chegar lá e o que vier morre, mas eu não. Nestas grandes provas gosto de estudar o percurso. Deixar de o ver em quilómetros e passar a defini-lo por etapas. Primeiro esta subida, depois o KV, depois aquela secção entre abastecimentos, a descida técnica, etc, etc. É isso que vou fazer de seguida, explicar como dividi o percurso do MIUT e a forma como acho que o esforço deve ser gerido de forma a concluir a prova em condições.

 

1ª Etapa: Porto Moniz - Estanquinhos

 

Os primeiros 27km do MIUT, que terminam em Estanquinhos, são talvez a etapa mais importante da prova. Mas não pelas razões que estão a pensar: esqueçam a barreira horária. No meu primeiro ano obcequei com isso e depois cheguei à conclusão que não era assim tão apertada. Entretanto até já aumentaram 1 hora a este corte, por isso não é por aí. Estes 27km com quase 3000D+ são importantíssimos porque uma má gestão do esforço durante esta noite pode comprometer definitivamente o resto da prova.

Aquele primeiro montículo no perfil é uma prenda que a organização vos dá. Primeiro sobem 400m em alcatrão e desembocam numa descida em trilho muito fácil. Não vão voltar a encontrar estas facilidades até ao fim. Depois de três participações e de em todas ter ficado vários minutos preso em afunilamentos no fim desta subida ou na descida seguinte, o meu conselho para o início da prova é que tentem partir lá à frente, e nesta subida, que é realmente fácil, puxem um pouco mais para que consigam um lugar pelo menos a meio do pelotão. Isto tem duas vantagens: não passam tempo parados (em 2017, apesar de não ter afunilado no fim da subida, toda a descida seguinte foi feita a passo ou parada) e vão andar numa zona do pelotão que é a vossa. Esta segunda razão é importante porque até Estanquinhos muito provavelmente vão andar metidos num comboio e se a velocidade de cruzeiro for baixa vão adormecendo no ritmo.

As subidas para o Fanal e Estanquinhos são uma brutalidade. Ambas com mais que 1000m de desnível, vão apanhar desde calçada, até lama, trilhos e degraus, muitos degraus. Quando amigos meus se vão estrear em ultras e me pedem conselhos, a primeira coisa que costumo dizer é que nas primeiras subidas se sentirem que vão em esforço é porque vão mal. Se começarem a quebrar não parem, mas metam um passo cada vez mais curto. Se estiverem num trilho procurem tricotar de forma a não levantarem tanto as pernas. É aqui que entra em questão a importância da velocidade do comboio. Se estiver rápido de mais a solução é fácil, encostam. Se estiver lento não têm grandes hipóteses a não ser irem tipo zombies até conseguirem ultrapassar, o que durante vários quilómetros não é fácil.

O abastecimento do Fanal, no fim do primeiro quilómetro vertical, não fica mesmo no topo da subida, quando saem ainda têm que subir mais um bocado. Evitem estar lá muito tempo, vão chegar muito quentes da subida, mas o ar nos 1500m vai estar frio. Vão arrefecer muito rapidamente e depois como não começam logo a correr, porque ainda há subida, vão demorar a aquecer.

A descida depois do Fanal é tão ou mais importante que os dois KV. É um pesadelo. Muito técnica, cheia de degraus e socalcos, com pedra muito escorregadia. Não pensem sequer em ganhar tempo ali, deixem isso para os prós. Preocupem-se em serem eficientes. Sejam poupados, não façam tonteiras, concentrem-se sempre, se tiverem que andar para passar alguns obstáculos, andem. Só vão ganhar com isso!

 

2ª Etapa: Estanquinhos - Curral de Freiras

 

 

Antes de mais, preparem-se. Dificilmente vão fazer uma descida melhor na vida do que a estão prestes a fazer a seguir a Estanquinhos. Provavelmente vão apanhar o nascer do sol nesta altura, por isso tudo se vai conjugar para ser inesquecível. A descida é relativamente fácil até à parte final, onde existem algumas escadas. A palavra de ordem é sempre "eficácia", mas vai ser difícil não se entusiasmarem num trilho tão bom como aquele.

Após a descida de Estanquinhos vão apanhar as primeiras grandes subidas em escadas, incluindo o famoso pipeline, paisagens brutais e alguns bons quilómetros que dão para rolar, logo a seguir ao abastecimento da Encumeada.

Apesar de ser um troço aparentemente fácil, é aqui que vão perceber se se portaram bem nos primeiros 27km. No meu primeiro ano foi aqui que percebi que estava lixado!

Nesta altura, a 3 semanas do dia, ainda não se sabe se o troço entre a encumeada e a descida para o Curral sofrerá alterações por causa de uma derrocada. Se assim for, vou tentar saber o que isso implica e venho aqui editar o texto.

A descida para o Curral das Freiras é traiçoeira porque convida a andar depressa, mas tem muita pedra. Mais uma vez, há que ser económico. Não andem para lá aos saltos porque só vos vai desgastar e ainda falta muito caminho!

Após esta muito longa descida surge a grande alteração de 2017 para 2018. Se nos outros anos desembocávamos numa estrada chata que subia lentamente até ao abastecimento no Curral, este ano vamos manter-nos em trilhos e inclusivamente apanhar umas boas subidas. Digo que esta é a grande alteração porque prevejo muitas dificuldades aqui. Lembrem-se que vêm há cerca de uma hora a descer, estão com as chamadas pernas de descida. Logo de seguida, quando já só pensam no abastecimento, vão entrar numa série de trilhos a subir. Provavelmente e meio do dia, provavelmente desesperados pela Base de Vida. Comigo resulta estar perfeitamente mentalizado para o que vem, já sei que vou passar a descida a pensar nisso.

 

3ª Etapa: Curral de Freiras - Pico do Arieiro

 

 

Muito importante: no Curral encham todos os depósitos de água que tiverem, vão precisar! Vão-vos fazer um controlo de material para que saiam pelo menos com 1 litro de água. Não saiam com menos de 1.5! A minha estratégia será deixar um flask vazio no Curral (Base de Vida), enchê-lo e levá-lo na bolsa de trás da mala. Quando passar o Pico Ruivo, se estiver vazio, transporto-o mesmo assim, o peso também é pouco. Se usarem Camelbak, o que tenho usado quase sempre, encham-no e levem pelo menos um flask cheio de reserva. O ano passado saí de lá com 2L, e ainda tive que dar água a algumas pessoas que ficaram enrascadas.

Vão entrar numa parte determinante da prova. A subida para o Pico Ruivo é longuíssima, é o vosso ultimo KV, mas não são os primeiros 800D+ que interessam. Esses são pacíficos, num trilho aos ésses e constante. O pior é quando acharem que já está! Acreditem, aos 800D+ vocês vão achar que já está. Mas não. Na verdade, ainda nem começou! É aqui que tem início o carrossel de escadas.

Com a atenuante de estarem num sítio incrível, estes quilómetros, desde o tal patamar até ao Pico do Areeiro (incluindo a paragem no Pico Ruivo), são muito, muito duros. Vão subir e descer vezes sem conta, vão pensar que é já ali, vão ter vertigens, vão desesperar com as escadas infinitas e os degraus que parecem cada vez mais altos! O melhor disto tudo? No fim do dia vão chegar à conclusão que estes 7km valeram pelo esforço todo!

Em 2018 surge uma nova alteração, o abastecimento que anteriormente estava no Areeiro avançou uns km (penso que quase 4). Isto introduz mudanças importantes, a meu ver. O abastecimento a seguir ao Curral, no pico Ruivo, é muito básico, não tem acesso automóvel. Quer dizer que desde o Curral até ao próximo abastecimento substancial vão passar umas 3 a 5 horas MUITO DIFÍCEIS, feitas provavelmente à esturra do sol (foi assim nos meus 3 anos). Além da água levem comida a sério para este troço, não se encostem aos geis porque não vão ter nenhum abastecimento para compor o estômago.

 

4ª Etapa: Pico do Arieiro - Machico

Provavelmente cairão no mesmo erro que eu, quando me estreei. Olharam para o perfil e acharam que as dificuldades nesta altura já tinham acabado, que agora era quase sempre a descer até à meta. Bem, na verdade até têm alguma razão, o pior já passou. O problema é o que ficou para trás! Nesta altura nem que fosse uma ciclovia com 5% de inclinação a descer vos custava, e a descida a seguir ao Arieiro está muito longe disso. Contem com alguns trilhos técnicos e, surpresa!, umas subiditas pelo meio. A parte final da descida é num terreno que faz lembrar a Serra da Lousã, com terra escura, muitas raízes e pedras. Muito inclinado.

Chegados ao Ribeiro Frio (onde em 2018 deixou de haver abastecimento, já que o anterior avançou) têm a última grande subida do percurso. Esta subida vai conhecer a terceira versão nos últimos 3 anos, por isso vou fiar-me nas dicas que recebi de quem conhece o terreno. O inicio será em estrada o que evitará a parede maior do ano passado, depois entraremos num trilho sinuoso semelhante ao final da descida anterior, até voltarmos aos estradões suaves que nos levam até aos 1400m do Pico. Para quem conhece as últimas duas versões destas subidas, esta será uma espécie de intermédio entra o fácil de 2016 e o difícil de 2017.

Segue-se uma descida muito longa e fácil até à Portela, aproveitem bem esta parte do percurso para se convencerem que vão conseguir, já falta muito pouco!

Nesta altura a maior dificuldade até à meta, além do cansaço acumulado e de uma outra surpresa que vos falarei, é a descida do Larano, aquele precipício que veem ali no gráfico. Não desesperem, vão seguros e com calma. É uma descida enervante e difícil, já vão em piloto automático, uma distração aqui pode ter consequências chatas.

Se chegarem ao fim dessa descida de dia (coisa que não consegui), aproveitem para se distraírem com a paisagem brutal enquanto percorrem os 7km da vereda do Larano. Talvez seja esse o truque: chegar de dia. Porque de noite, meus amigos, esta vereda que pode parecer o paraíso na terra nas fotografias, vai-vos dobrar e dobrar e dobrar. São 7km ligeiramente a subir, sempre no mesmo trilho, sempre com a mesma vista. Parece uma passadeira infinita. Vai testar a fundo a vossa resistência mental.

Virado o Larano e chegados ao último abastecimento, venha mais uma vereda, levada, trilho ou estrada, nesta altura nada vos vai desviar do caminho para Machico. Liguem para quem tiverem que ligar: estão a chegar!

Está feito, parabéns!

Hm? Como é que é? Falta correr? Ah, pois.. Bom, então vemo-nos em Porto Moniz!

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